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A arte

(quase) sacra

de Sarah 

- em vidro reciclado  

Renato Costa e Willian Vinícius
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Foto: Willian Vinícius

Mandalas multicoloridas, imagens sacras e painéis espelhados de todos os tamanhos decoram uma garagem da região Norte, nos arredores de Goiânia. Sarah Taís, de 26 anos, é uma jovem artesã que se dedica, há um ano, à elaboração de artefatos de vidro.

 

A ex-estudante de arquitetura se afastou dos estudos para se dedicar à pequena Flora, uma linda bebê vegetariana, de 8 meses de idade. O Portal Berra Lobo visitou seu ateliê e traz um pouco de sua história e sua arte.

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Com toda a delicadeza, Sarah se ocupa do artesanato e às inúmeras tarefas em torno da maternidade, na criação de Flora. Tenaz, sem tirar a criança do colo, Sarah promove, com a ajuda da mãe, a reutilização criativa de material de alto risco, descartado de maneira imprudente, em diversos setores da capital: vidros e espelhos desembalados, quebrados - com alta probabilidade de gerar acidentes - soltos pelo no chão de ruas, esquinas e lotes baldios ou caçambas e que geram entulhos e riscos à saúde pública.

O seu pequeno ateliê doméstico, no pacato Goiânia II, onde trabalho artesanal de reciclagem artística de vidros gera expressividade artística e sustentabilidade ecológica. O material é cortado em diferentes formatos e sobre eles sãos inscritos desenhos lúdicos, texturas, abstrações, representações religiosas e figurativas. Alguns dos desenhos, de cunho mais comercial, são voltados à reprodução de temas de apelo religioso, como, por exemplo, as imagens sacras.

Fauna, flora e mandalas

 

As artes que Sarah produz com mais cuidado são as autorais que, além de ter, também, finalidade comercial, é um exercício de estímulo muito maior à imaginação criativa. Temas variados como: fauna, flora, abstrações e mandalas são feitas a partir de vivências e concepções de mundo da artista. As peças de pintura levam em média 4 horas para serem finalizadas. As obras contêm um aspecto transparente e com a presença de relevo, devido ao fato de Sarah utilizar, na sua maioria, vidros translúcidos, tinta dimensional e tinta verniz vitral que coloca sobre as cores utilizadas. 


No entanto, por outro lado, as demais peças já pré-concebidas – que representam símbolos católicos e/ou cristãos, como santas, anjos e igrejas – são produzidas mais rápido, em torno de 2 horas. Além disso, a cor tem um aspecto transluzente, mais vivo, que adere de uma melhor maneira ao material utilizado. A colagem dos vidros é feita com super bonder de silicone, devido ao fato de ser muito resistente à umidade e ter um processo de secagem rápido, facilitando assim a entrega de encomendas. 

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Mãe e trabalho doméstico remunerado   

 

Em meio à obras de arte e às aspirações da vida de uma jovem de 26 anos, existe a paradoxal necessidade do cuidado do outro. Da outra, no caso a filha. A maternidade, nesse elo entre a reprodução biológica e social, se mostra profundamente significativa em casos em que a arte passa a ser a forma de expressão e das lutas por sustento e emancipação. 

Artistas expressam as mesmas possibilidades humanas que a manutenção da vida revela, através do desejo. O sentido estético e espiritual da alteridade materna passa, então, à representação figurativa da arte e a humanidade das relações de reconhecimento familiar se transformam em expressão de vida.

Foto: Willian Vinícius

Foto: Willian Vinícius

A arte é expressão da vida. Nesse sentido, pode-se afirmar a ampliação do conceito de arte para atividades que tenham por objetivo a criação e a ampliação do mundo, concreto e simbólico. Ao observar-se a arte e o espírito cuidadoso de Sarah, contempla-se uma agradável confusão entre a expressão da vontade criativa da arte e o cuidado ecológico da reciclagem.

Atividades sensíveis elaboradas com vistas à satisfação de uma necessidade econômica. Todas elas, formas conscientes de se posicionar diante da vida e dos desafios que ela implica: arte, artesanato e cultura de reaproveitamento, interferem positivamente na realidade social e no desenvolvimento humano de seus agentes e apreciadores.

Foto: Pedro Apoena

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Foto: Willian Vinícius

Já o reconhecimento econômico tradicional falta ao trabalho de mães jovens como Sarah. É insuficiente em um contexto patriarcal de família - trabalho reprodutivo não remunerado - e impossibilitado pelo desemprego estrutural, pela austeridade fiscal - que corta bolsas estudantis - e pela falta de oportunidades à juventude. O trabalho tem tantas formas e possibilidades, justas e injustas, uma delas concretizada pela arte de Sarah, onde, como em qualquer outra arte, os valores estão sendo construídos. Em seu caso, por meio da luta pela emancipação de uma maternidade humanizada, que inspira essa expressividade partilhada entre a artista e os admiradores de sua arte.

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Foto: Willian Vinícius

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