"Da luta, eu não fujo!"
Rafaela Ferreira
No topo das hastes, bandeiras de cor lilás e brancas. Ao redor, inúmeros chapéus de palha. Em coro, as vozes falavam em alto e bom som: "Olha Brasília está florida, estão chegando as decididas. É o poder das Margaridas!".
As Margaridas. Agricultoras, indígenas, quilombolas, pescadoras e extrativistas. A junção do campo, da floresta, da água e da cidade. É assim que se dá a maior marcha em prol dos direitos das mulheres da América Latina.
Margarida vive - O encontro acontece a cada 4 anos, em Brasília. O nome é em homenagem à Margarida Maria Alves, líder sindical, morta a tiros de escopeta, na porta de sua casa na Paraíba. O ano era 1983 e, até hoje, 2020, não se descobriu quem mandou matar Margarida.
Por lutar pela reforma agrária e direito popular, a sindicalista, de 50 anos, perdeu a vida. Mas a resistência continuou. E, para as participantes, ela não morre nunca. Margarida foi assassinada no dia 12 de agosto e essa data não foi esquecida. No dia 13 e 14 de 2019, mulheres de todo o Brasil foram para as ruas para marchar pelo fim da violência.
A marcha é organizada pela Confederação Nacional de Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Contag), mas o trabalho de base das 27 confederações e os 4 mil sindicatos, é o que move as 100 mil mulheres que marcham nas ruas da capital do país.
As lutas que se cruzam - O ato une, também, causas. O fim do agronegócio, o não uso indiscriminado do agrotóxico, o fortalecimento da soberania alimentar e a não aceitação de um governo neofascista se unem na luta pela emancipação feminina e o fim do patriarcalismo. O lema da marcha representou bem esse fator: "Margaridas na luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência".
No entanto, "uma das maiores conquista que temos, foi na marcha das margaridas. É onde levamos uma pauta e entregamos uma para o governo e conseguimos nossa politica publicas. Então a peça chave mesmo é ela, onde reunimos 100 mil mulheres em Brasília", diz Tânia Fernandes, coordenadora da Secretaria Estadual das Mulheres da Fetaeg.
Tânia fala do orgulho que a delegação de Goiás, já que a região teve boa concentração na marcha. "Fizemos um levantamento e deu que foi mais de mil pessoas no Estado de Goiás. Fiquei super feliz. Nem esperava tanto. Só para você ter uma ideia, apenas nós rurais foram mais de 800 pessoas", disse.
A Marcha das Margaridas, segundo Tânia, revela o número de mulheres insatisfeitas com o sistema opressor que vivem. A união da luta de inúmeras trabalhadoras, do campo, das águas, da floresta e da cidade mostra a resistência que Maria Alves semeou. "Somos de todos os novelos, de todo tipo de cabelo. Grandes, miúdas, bem erguidas, somos nós as Margaridas", completa o canto das Margaridas.












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