
Por Mauricio dos Santos
10 MOTIVOS PARA AMAR O SAMBA DE RODA
1. É PATRIMÔNIO IMATERIAL, em 2004, foi outorgado pela Unesco -
Organização das Nações Unidas, na III Proclamação das Obras-Primas do
Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade; em 2004 o SAMBA DE RODA do
Recôncavo Baiano foi inscrito no Livro de Registro das Formas de Expressão
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Dossiê Samba de
Roda do Recôncavo Baiano. IPHAN, 2004);
2. É UNO E DIVERSO, multifacetado, possui traços semelhantes, no Samba
Rural Paulista, no Coco Pernambucano, no Tambor de Criola Maranhense, e
obviamente no SAMBA DE RODA Baiano (Dossiê Samba de Roda do
Recôncavo Baiano. IPHAN, 2004);
3. É ANTIRRACISTA, PORQUE o SAMBA ENSINA, e quem participa das
ações apoia atos que envolvem o protagonismo de pessoas negras e das
referências culturais afro-brasileiras (RIBEIRO, Djamila. Pequeno Manual
Antirracista, 2019);
4. É POPULAR, PORQUE qualquer um/a pode participar, seja cantando,
tocando, batendo palmas, respondendo o refrão ou dançando pois como
engoda o SAMBA “Vem Sambar Mais Eu, Vem Sambar Mais Eu Mano Meu”
(SODRÉ, Muniz. Samba, O Dono do Corpo, 1998);
5. É ANTIMACHISTA! Você já ouviu Tia Walquíria de Oxum? Dona Edith do
Prato? Dona Dalva – Doutora do Samba? Pois assim como o SAMBA do RJ
nasceu na Casa de Tia Ciata, ele permaneceu com a presença indispensável
das mulheres, ora dançando nas RODAS DE SAMBA, ora conduzindo as
RODAS DE SAMBA (SIMAS, Luiz. Flecha no Tempo, 2019);

Espelho de mão; elemento sacro afro-brasileiro; (Ilustração: Mauricio Santos, 2020)

Divindade afro-brasileira consagrada a terra; (Ilustração: Mauricio Santos, 2020)
6. É AFRO-BRASILEIRO, PORQUE o SAMBA seja lá qual for a conjunção,
surgiu arrolado as religiões afro-brasileiras. Cabe destacar que essas religiões
são as que mais sofrem com a intolerância e com o racismo religioso, por
exemplo, só em 2019 no Rio de Janeiro, o Tribunal de Justiça e o Ministério
Público, contabilizaram 176 terreiros fechados após ataques ou ameaças de
traficantes. Assim apoiar o SAMBA DE RODA, especialmente quando
envolvem afro-religiosos/as, é importantíssimo porque é uma ação antirracista
religiosa, sendo que o SAMBA DE RODA possui indizivelmente liame com as
religiões afro-brasileiras;
7. É DE TRABALHADOR/A, PORQUE são proletários/as os/as que
rotineiramente tocam, cantam e dançam o SAMBA DE RODA. Cabe nota que
enquanto os desfiles carnavalescos do Rio de Janeiro e de São Paulo, outrora
infelizmente recorreram a elitização e ao empresariado; num “DO CHICOTE
AO CAMAROTE”, felizmente o cenário vem mudando, e desfiles cada mais
críticos e com temas populares manifestam-se nos SAMBÓDROMOS;
8. VALORIZA MULHERES E CRIANÇAS, das crianças PORQUE dos
momentos mais conspícuos para os SAMBA DE RODA são as festividades de
SÃO COSME e SÃO DAMIÃO; com muitas versas dedicadas as crianças e aos
santos gêmeos meninos; e VALORIZA AS MULHERES PORQUE, MUITO AO
CONTRARIO, da vulgarização das mulheres em muitos meios e mídias
carnavalescas, o SAMBA DE RODA agencia o empoderamento das mulheres,
como já mencionado muitas delas são lideranças, cantadeiras ou mesmo
sambadeiras. Contudo cabe lembrar, que nem mesmo o SAMBA DE RODA
escapa do machismo, existem cantigas maliciosas e homens tocadores que
preterem e impedem mulheres de tocar os instrumentos musicais;
9. RESPEITA OS/AS VELHOS/AS. As escolas de samba evidenciaram as
velhas guardas, que são grupos de membros/as mais velhos/as que tem a
incumbência de transmitir os conhecimentos históricos, esse é um elementos
AFRO-BRASILEIRO ancestralizado, pois assim como nas comunidades
tradicionais, os VELHOS/AS BAMBAS são baseais e respeitabilíssimos/as;
10. PORQUE É HISTÓRICO, maiormente popularizado depois da Abolição da
Escravatura em 1888, o SAMBA foi reprimido pela Lei da Vadiagem em 1941,
mas com a perspicácia das mulheres, sobretudo as afro-brasileiras e afro-
religiosas, o SAMBA conseguiu RESISTIR. Em reconhecimento as MÃES DO
SAMBA, as escolas de samba do RJ e de SP, compuseram as ALAS DAS
BAIANAS;
Mauricio dos Santos
Graduado em antropologia e diversidade cultural latino americana e mestre pelo programa de pós-graduação interdisciplinar em estudos latino americanos pela UNILA; se interessa pela cultura popular latino-americana especialmente a afro-brasileira; SAMBADOR consagrado à OXÓSSI, acredita nos milagres de CARNAVAL e que qualquer “QUAISCALINGUDUM, QUAIS” é um AMÉM.
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