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Por Gabriela Marques

Unir forças nas lutas diaspóricas

O fenômeno conhecido como globalização que encurta distâncias e interfere em padrões relacionados ao tempo nos leva a modificar não só a maneira como pensamos e vemos o mundo, mas nossa própria atuação nele.

 

O fluxo constante de dinheiro, dados, informações não seria, no entanto, algo isolado, sendo acompanhado também de um grande trânsito de pessoas. O que em um primeiro momento pode ser pensado como privilégio de alguns poucos detentores de poder e riqueza, nos mostra como sendo um processo muito mais complexo.

 

Não me deterei aqui no fluxo referente ao turismo ou na nova onda que relaciona conhecer outro país à felicidade e liberdade. Nos referimos sim àqueles que são forçados a deslocar-se a um outro país, outra cultura, outra língua, por motivos diversos. Ou mesmo àqueles que tomam tal decisão por motivos relacionados à busca por melhores condições de vida. Seja em seus cotidianos ou na organização em movimentos sociais, é preciso destacar o protagonismo desses sujeitos nos debates sobre a realidade social nos países onde estão.

 

No entanto, este contexto nos leva a novos desafios, que é o reconhecimento mútuo das história dos diferentes grupos sociais que lutam contra a desigualdade, especificamente aqueles formados por sujeitos racializados. É certo que este fluxo se dá desde escalas mais regionais, até aquela mais global. No entanto, é sintomático como esta discussão acabe nos levando para um debate sobre a migração nos Estados Unidos ou no continente europeu. Fator ligado diretamente à concentração de dinheiro e das decisões a nível internacional que estes dois territórios representam.

 

Por um lado, os movimentos de pessoas racializadas europeias não podem fechar-se em si mesmos, correndo o risco de reproduzir em suas lutas o eurocentrismo já tão conhecido por todos. Como nos lembra Achille Mbembe ao analisar a obra de Frantz Fanon, a farmácia para os problemas do mundo não está na Europa. Por outro lado, é preciso que os movimentos racializados globais, como o movimento negro americano, com forte penetração em alguns espaços sejam eles acadêmicos ou midiáticos façam um esforço para conhecer e visibilizar as lutas que estão sendo travadas, há muito tempo, no berço do capitalismo, como é o caso dos povos ciganos, das comunidades muçulmanas e dos imigrantes – especialmente do continente africano – que não conseguem exercer o direito de moradia e trabalho nestes países. Paralelo a tudo isso está o histórico de lutas dos povos originários.

 

As diversas diásporas provocadas pelas diferentes formas de escravidão e exploração nos levam a fazer novas reflexões sobre a sociedade e a relação dos homens com a terra, o território. Este contexto nos deve servir para unir forças entre grupos racializados, trocar experiências, valorizar as singularidades de cada história e reconhecer o que nos aproxima. Compartilhar o que há de comum entre estes sujeitos, que não pode e não deve se restringir às dores, pode ser, ao final, o coquetel de remédios necessário para buscar a cura das doenças sociais que vivemos no século XXI.

Gabriela Marques

 

Jornalista e Pesquisadora. 

Doutora em Comunicação.

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