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UPA Pediátrico do Bairro Maracanã, em Anápolis.
Foto: Samuel Leão

Casos de negligência se tornam rotina na UPA Pediátrica de Anápolis

Mães se unem em busca de justiça para com filhos e filhas

Davi Galvão e Eduarda Leite

O Estatuto da Criança e do Adolescente esclarece no seu artigo 5° que “nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência”. Mas parece que a Prefeitura de Anápolis tem preocupações maiores do que seguir o rigor da lei, vide a situação atual da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Pediátrica da cidade.

No mês de abril, o caso da pequena Maria Alice, que faleceu com apenas cinco meses de idade, revoltou a população e deixou a mãe, Renata da Silva, de 25 anos, desolada e impotente diante da negligência estatal.

A dona de casa conta que deu entrada com a filha na UPA na manhã do dia 14 de abril. A pequena sofria, desde que nasceu, com Epidermólise Bolhosa, uma doença rara e dolorosa que causa bolhas na pele. No primeiro momento, ela foi atendida, medicada e liberada, mas retornou, por volta das 22h do mesmo dia, com piora nos sintomas.

Renata revela o drama que passou durante mais de seis horas na unidade, quando ao chegar na recepção e ter que aguardar ser chamada ao consultório, a médica teria dito que Maria Alice estava apenas tendo uma reação alérgica devido a uma medicação que teria tomado pela manhã.

A mãe protestou o diagnóstico, apontando que a filha estava visivelmente em um estado muito grave. A profissional teria então alegado que a neném estava sendo “dengosa” e que a própria reação da genitora estaria piorando o caso. Os ânimos se elevaram e a plantonista acabou abandonando a consulta, desligando a luz do escritório ao sair.

A partir daí, ela conta que se esforçou para que a filha fosse novamente atendida, mas era constantemente orientada a esperar os exames, que seriam liberados às 06h. Entretanto, por volta de 03h30, a pequena começou a apresentar dificuldades para respirar e ficar roxa.

Ainda assim, Renata afirma que os médicos só foram prestar auxílio após a criança desfalecer nos braços dela, momento em que a equipe médica tentou iniciar o processo de reanimação.

"Até hoje, ninguém foi buscar saber do que aconteceu, eu que tive que ir fazer a denúncia, indo sozinha atrás com a minha advogada", revelou.

Longe de ter sido um caso isolado, outros desvios de conduta, ainda no mês de abril, ocorreram dentro da unidade.

Nelziane Costa Rodrigues é outra mãe que perdeu tragicamente a filha, Sarah Rodrigues, de apenas cinco dias. A neném nasceu na Santa Casa de Anápolis, onde a mãe foi alertada da existência de um pequeno sopro cardíaco, porém em níveis aceitáveis. A equipe médica orientou a realização de um eletrocardiograma.

No 29 de abril, a mãe percebeu a filha ofegante e roxeando, com dificuldades para respirar. Dirigiu-se até a UPA Pediátrica, onde constatou-se baixa saturação e um quadro de hipoglicemia.

Apesar da recomendação recebida na Santa Casa para a realização do eletrocardiograma, na UPA foram realizados apenas Raio X e exame de sangue. Ela foi então entubada, momento no qual o quadro se tornou estável.

De acordo com a mãe, após a melhora, os médicos responsáveis retiraram a aparelhagem mecânica.

"Tiraram os equipamentos dela para levar a um jovem, que estaria morrendo. Ainda não havia um diagnóstico do que se passava com a minha filha", relatou Nelziane.

Logo depois, o quadro apresentou piora e resultou na morte da recém-nascida. No laudo médico, consta a transferência dos equipamentos para uma emergência adulta.

"Ela foi entubada por volta das 11h, e aguardava os exames de sangue, que sairiam às 18h. Só que às 13h foi tirada da ventilação, e lá pelas 17h  ela piorou e foi ficando gelada e roxinha", contou a genitora, emocionada.

 

A bebê acabou falecendo por volta das 19h, segundo a mãe, antes que os resultados dos exames pudessem ser revelados.

As mães

Em um grupo no Whatsapp, mais mães e parentes de outras crianças e pacientes, que consideram ter tido o atendimento negligenciado, se reúnem para juntarem forças e tentarem conseguir justiça.
 

No dia 20 de abril , um protesto foi realizado em frente à unidade em questão, cobrando maiores respostas da gestão pública.

As restratações

Sobre a paciente Maria Alice, de 5 meses, que veio a óbito na unidade na madrugada de sábado (15 de abril), a Fundação Universitária Evangélica (FUNEV), gestora da UPA Perfil Pediátrico de Anápolis, informou que foram realizados exames e a medicação foi feita prudentemente, e a pós a liberação da paciente, esta recebeu orientações de retornar em caso de mudança de quadro clínico.

A Fundação ainda disse que a criança retornou à unidade e, conforme o comunicado, recebeu atendimento imediato com o seguimento de todos os protocolos. Durante a madrugada, apresentou um rebaixamento de nível de consciência, e teve uma parada cardiorrespiratória, os profissionais tentaram reanimá-la por cerca de uma hora mas, infelizmente, sem sucesso. De acordo com a FUNEV, no momento da parada cardiorrespiratória, a criança já se encontrava há mais de 8 horas na unidade, em Box de estabilização, devidamente assistida e monitorada.

A Secretaria Municipal de Saúde foi notificada sobre uma suspeita de óbito causado por meningite e solicitou a análise do Lacen, centro de referência em diagnósticos laboratoriais. Quando questionada, informou somente que "o resultado da autópsia já foi entregue pela Vigilância Epidemiológica à família da paciente." A mãe da criança confirmou a suspeita de meningite.

 

Sobre Sarah Rodrigues, a FUNEV, em nota, contrariou a alegação da mãe da paciente: “O suporte respiratório adequado ao caso foi realizado durante todo o período em que esteve em observação, conforme os devidos registros em prontuário médico.”

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