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Ciência

Insuficiência de recursos dificulta desenvolvimento de vacina no Brasil

O desenvolvimento da vacina bivalente conta com pesquisadores de várias instituições de ensino brasileiras, incluindo a UFG, e tem proposta inédita contra o Rotavírus e o Norovírus

Maria Eduarda da Silva Lima

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Cientistas simulam vacina para doenças que acometem principalmente populações em vulnerabilidade social. | Foto: Marina Sousa

Aliados à Imunoinformática, pesquisadores brasileiros desenvolveram simulações computacionais para uma vacina inédita contra o Norovírus e o Rotavírus, principais responsáveis por doenças gastroentéricas em pessoas imunossuprimidas.

 

A pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de Imunologia de Mucosas e Imunoinformática da Universidade Federal de Goiás (UFG) e, atualmente, se encontra na fila de espera do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), principal agência voltada para fomento de pesquisa científica no Brasil. O próximo estágio de desenvolvimento são os testes pré-clínicos, que incluem a produção da vacina e testes em células e em animais, mas a falta de fomento voltado para a pesquisa científica está sendo um grande desafio.

A pesquisa é tema da tese de doutorado da cientista Amanda de Oliveira Matos, que está sendo orientada pelo professor de Imunologia, doutor Helioswilton Sales, e pela professora de Virologia, doutora Marcelle Figueira Marques. Dentre os pesquisadores, estão estudantes da UFMT, UFMG e UFG, incluindo outras instituições, que conseguiram suprir limitações da vacina já existente contra o Rotavírus, além de propor uma vacina para o Norovírus, contra o qual ainda não há imunizante licenciado em nenhum lugar no mundo.

Recursos científicos escassos 

O professor Helioswilton expôs que a falta de recursos financeiros voltados ao desenvolvimento da vacina é o principal entrave a ser enfrentado, já que, só para produzi-la, o orçamento seria em torno de R$ 30 mil, sem contar as etapas posteriores, que incluem testes pré-clínicos, ensaios clínicos em humanos, testes de qualidade e distribuição. O projeto foi submetido para aprovação do CNPq no ano passado, mas até agora não existem indícios se a pesquisa será contemplada ou não. O cientista destaca: 

“É necessário que não só o Governo Federal e os Estaduais, mas também a iniciativa privada, olhem com melhores olhos para a Universidade Pública, que é a principal responsável pelas publicações científicas no país. É justamente por causa desse déficit de fomento à pesquisa que temos tantos cientistas deixando o Brasil e indo para outros lugares com melhores condições de trabalho”.  

Ricardo Galvão, atual presidente do CNPq, teve como primeira medida emergencial, após a gestão do governo de Jair Bolsonaro, reajustar, além dos valores das bolsas de pesquisa, os investimentos em infraestrutura de laboratórios e equipamentos.

 

De acordo com dados da SBPC (Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência), o bloqueio de recursos científicos, aprovado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022, resultou em uma perda de 44,7% dos recursos do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

 

Já em janeiro deste ano, a  ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, anunciou a recomposição integral desses recursos, o que impacta diretamente na possibilidade de financiamentos científicos promovidos pelo CNPq.

A importância da vacina

 O Rotavírus e o Norovírus são os principais causadores de doenças diarreicas agudas e são capazes de levar indivíduos a óbito, principalmente idosos e crianças, dependendo do nível de vulnerabilidade imunológica – indivíduos mal nutridos, desidratados e sem condições adequadas de saneamento básico. Por serem transmitidos através de água e alimentos contaminados, afetam principalmente populações com maior fragilidade social. A motivação para o desenvolvimento da vacina bivalente se deve, principalmente, às limitações das vacinas já disponíveis. 

 

O Rotavírus já possui vacinas licenciadas com ampla distribuição mundial, no entanto, existem alguns fatores negativos que não atendem às vulnerabilidades dos indivíduos ameaçados pelo vírus. A vacina já existente no mercado é feita com os chamados “vírus atenuados”, agentes infecciosos que, após passarem por uma série de tratamentos, possuem baixa capacidade de induzir doenças em indivíduos saudáveis. Todavia, em indivíduos cujo sistema imunológico se encontra debilitado, o vírus é capaz de infectar e fazer com que os sintomas se manifestem, que variam entre diarreia intensa, vômito e febre. 

 

Atrelado a esse fator, as populações de locais com restrições de acesso ao saneamento básico e sem condições nutritivas corretas, como é o caso de algumas regiões da África e da Ásia, não são contempladas com a vacina já existente. Para solucionar esse problema, o uso da imunoinformática foi o principal aliado. Por meio de ferramentas computacionais, foi possível simular a quantidade necessária de peptídeos que devem estar presentes na vacina para que o HLA – Antígeno Leucocitário Humano – entre em ação, fazendo com que os linfócitos-T do organismo humano reconheçam antígenos diferentes e comecem a ativação da resposta imune no corpo. 

 

Em todas as simulações, o percentual de sucesso foi superior a 90%, o que indica que as populações da África e da Ásia seriam contempladas positivamente. Além de aprimorar a resposta imunológica, o uso das técnicas tecnológicas permitiu que o tempo de desenvolvimento da vacina fosse significativamente reduzido.

 

Já em relação ao Norovírus, ainda não existe nenhuma vacina licenciada contra ele em nenhum lugar do mundo, principalmente devido à grande quantidade de mutações que ele pode sofrer ao longo do tempo. Além disso, o doutor em Biociências e Biotecnologia, Helioswilton Sales, ressaltou que talvez não houvesse tanto interesse público, já que o pior quadro possível, o óbito, é observado principalmente em países em desenvolvimento.

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