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Foto: O Popular
Publicando os Impublicáveis
Gabriella Paiva
O Goiânia Clandestina é uma iniciativa idealizada por Mazinho Souza, estudante de filosofia da Universidade Federal de Goiás, que ajuda escritores da periferia a publicarem seus escritos. Apesar de levar "Goiânia" no nome, a iniciativa possui sua sede em Aparecida (no setor Colina Azul) e contempla toda a região metropolitana, sendo esse o motivo de levar o nome da capital.
Surgiu em torno de 2016 e 2017, com a "necessidade de publicar gente", como o próprio idealizador diz. Mas por que essa necessidade? Murilo Moura, atuante na parte de produção de eventos e colunista na revista do coletivo, fala sobre essa importância: "nunca considerei uma publicação de um livro, é algo impossível, e muitas pessoas periféricas da mesma forma. O que era negado? Pessoas periféricas, pobres, pretas, trans, e agora vai sair a antologia trans. Estamos publicando os impublicáveis e fazendo formação também, com a Escola de Escritores."
Dar o poder de narrar a geração, de narrar o mundo a sua volta, seja ele da forma que for, sem ter que se encaixar em padrões que não são seus. Esse é o desejo de Rafael Silva, artista e participante do projeto, para ele, seu ofício de vida é a escrita, e sua missão é narrar sua geração. Rafael ainda diz:
A leitura é um campo fértil, e a escrita um campo minado
Se a escrita é um campo minado, a publicação é erudita, então, a pergunta é: como publicar pessoas que precisam ser publicadas?
Escola de escritores e poesia falada
A Escola de Escritores, citada por Murilo, é um projeto dentro da editora que tem como objetivo a formação educacional dos escritores, com uma proposta decolonial. Dessa forma, as aulas são ministradas pelo próprio Mazinho, que doa o seu patrimônio intelectual em prol dos participantes e, no final do módulo, os alunos que melhor se expressarem ganham um prêmio – reconhecimento, acima de tudo.
O primeiro módulo ocorreu no mês de dezembro de 2021 e Carla foi a ganhadora, tendo seu primeiro livro de poesia publicado. A artista descreveu como foi a sensação de participar do Slam, a última apresentação, que é um campeonato de poesia falada:
Mas aquela sensação, a sensação que tive, o arrepio que senti, as palavras que saíam da minha boca e voltavam para o meu corpo com uma vibração ampliada, jamais esquecerei
A verba acabou, e agora?
O problema, entretanto, está no financeiro do coletivo. Como qualquer projeto voltado para a sociedade, a iniciativa enfrenta dificuldades. Ou seja, falta verba para a execução de projetos, sendo que muitas das vezes os funcionários do Goiânia Clandestina pagam para trabalhar, a fim de que o movimento não pare.
João Batista, diretor cultural de Aparecida e dançarino, explica que a Secretaria de Cultura (SECULT) era uma secretaria vinculada a outras, dependendo dessas para fomentar a cultura, sendo que, apenas no ano de 2021, tornou-se uma estrutura única de secretaria e, ainda, com escassez de verba. Informa também que criaram um PPA – um plano de governo –, inserindo os programas culturais dentro das expectativas, para que, quando os projetos de leis fossem aprovados pela Câmara dos Vereadores, pudessem repassar a verba de forma igualitária.
A salvação temporária foi por meio da Lei Aldir Blanc, que contemplou a Secretaria de Cultura com cerca de 2 milhões e meio de reais vindos do fundo nacional de cultura, para repassar a pessoas físicas e jurídicas que apresentassem seu portfólio cultural. Com isso, o coletivo Goiânia Clandestina recebeu a verba e pôde executar a Escola de

Demonstração cultural | Foto: Sabiá Vör e Erika Borba
Escritores, por exemplo, tendo que fazer das tripas, coração, para o dinheiro render. O diretor cultural, por fim, faz um apelo à comunidade, e pede para que haja o casamento entre Governo e povo para que a Secretaria de Cultura funcione. Isto é, que a população busque saber e pressione para que o projeto vá para frente.
Para atravessar o campo minado da escrita, portanto, deve-se buscar outras formas de estímulo, até que Aparecida de Goiânia esteja pronta para fornecer os incentivos necessários. Enquanto isso, o Goiânia Clandestina vai fazer o impossível para continuar contando histórias, narrando gerações e publicando os impublicáveis.