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Lanche aqui, descaso acolá
Ilustração: Jordana Viana
Rafael Gofer
Terça-feira de manhã. É dia letivo na Universidade Federal de Goiás, do Campus Samambaia. Uma leve brisa fria matutina guia o caminho deste locutor e de outras tantas almas sonolentas que despertaram neste dia rumo ao preenchimento de conhecimento de nossas cabecinhas. Pássaros ao alto, no decorrer do caminho, entre piso cimentado e grama de mato alto, disputam os céus e as lamurias fonéticas com os pombos. Que no status quo contemporâneo, se tornaram sinônimo de doença e descaso.
Entre passos acelerados e mochilas balançantes, o futuro do país em suas relações simbióticas com aparelhos tecnológicos – independente da pressa – não abdica do ali estar conectado. O Restaurante Universitário é parada obrigatória para a energia necessária do dia, no exercício intelectual de se armar de ferramentas acadêmicas que transformam vidas, seja a do indivíduo ou coletivamente.
Dependendo do capitalismo, em cada um instaurado e o quanto o “si” sobressai ao “nós”. É onde o calo de cada um está mais latente, no caso. Indivíduo.
Devidamente munido de um lanche, balanceado, no tempo da paciência, acelerar a pé, e os pés, rumo a aula tão longe instaurada é o roteiro definido. Caminhando e cantando (leia-se correndo, ouvindo música no fone e comendo quase engasgando) e entre um ou dois tropeços no caminho, o lanche se despede de mim ao encontrar o estômago amigo.
Resquícios de sua história, no entanto, em minhas mãos fazem volume e armam a cama sem pressa de se levantar. A caminhada prevê ainda alguma dose exacerbada de metros de sol sorrindo. E o suor das mãos em contato com plásticos e papel remanescentes do lanche digerido começa a incomodar o estudante em caminho da aula tão, tão distante.
A paisagem agora é composta de centros de aula de concreto, plástico e papel no chão disputando espaço com a grama e a botânica local. Por lugar de fala do estudante que aqui circula, o conhecimento é de que lá adiante, nos prédios de aula, as lixeiras são presentes. O questionamento é acerca dos repositórios de lixo (do caminho e não do destino) para os visitantes transeuntes.
Entre os muros de concreto e os macacos explorando plásticos na terra jogados – nesta jornada entre o alimentar e o estudar – dentro do campus macro, onde estão as lixeiras para o desapego do plástico e papel no roteiro desenhado?
A percepção neste momento, ao olhar para as mãos é de que o plástico e o papel estão evoluindo para uma luva em mim nada agradável. Ao longo do caminho, por instantes, a tentação de fazer com que o lixo nas mãos encontre seus colegas ao chão é uma possibilidade que sussurra nos ouvidos. O olhar ao redor não encontrou, mas a certeza da presença da lixeira na sala de aula acolá no destino (caso o lixo não tenha feito abrigo) é recompensa da paciência da caminhada matinal, caso tenha suportado até o final.