Ciência
Pesquisa utiliza a nanotecnologia na redução dos impactos do uso de agrotóxicos
Estudo realizado pela UFG e pela UFSCar busca a redução dos impactos do uso de agrotóxicos à base de glifosato em ambiente aquático
Mariana Brito Xavier

Pesquisadores da UFG desenvolvem estudo no Instituto de Ciências Biológicas. | Foto: João Marcos de Lima Faria, acervo pessoal.
A recuperação de peixes Barrigudinha (Guppy) contaminados por agrotóxicos. Esse foi o resultado conquistado na fase atual da pesquisa desenvolvida pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que se iniciou com o Chamado de 04/2019, promovido pelas Fundações de Amparo à Pesquisa de Goiás e de São Paulo (Fapeg e Fapesp), e tem previsão de encerramento em outubro de 2023.
O estudo investiga o uso de nanopartículas de óxido de ferro na retirada de defensivos agrícolas à base de glifosato, o mais utilizado no Brasil. Os pesquisadores expuseram amostras de peixe guppy, também conhecido como Barrigudinha (Poecilia reticulata), à recriação de ambiente contaminado durante 21 dias.
Após esse processo, os animais passaram por um período de recuperação (21 dias), em água limpa. Os resultados foram animadores: as nanopartículas conseguiram reduzir a contaminação por defensivos agrícolas nas amostras de peixe analisadas.
A parceria
O edital, promovido pela Fapeg e Fapesp, busca fortalecer as relações entre os dois estados e fomentar o conhecimento científico e tecnológico. De acordo com o doutorando e pesquisador da UFG, João Marcos de Lima Faria, a parceria foi fundamental para o desenvolvimento do estudo. Segundo ele, a nanotecnologia, por se tratar de uma área emergente, exige a colaboração entre especialistas de diferentes ramos, como bioquímicos, fisiologistas e geneticistas, por exemplo, para realizar a análise eficaz dos biomarcadores dos organismos estudados.

Pesquisa visa a redução do impacto de agrotóxicos, que chegam a 9 tipos diferentes em uma mesma amostra de água, segundo a Fiocruz. | Foto: João Marcos de Lima Faria, acervo pessoal.
Os resultados
A pesquisa, até o momento, resultou na elaboração de 8 artigos científicos. Além disso, houve a participação em eventos nacionais e internacionais como o Congresso Brasileiro de Biologia Celular em 2021 e o SETAC (Society of Environmental Toxicology and Chemistry), na Europa, em 2020, 2021 e 2022. Sobre a "reta final" da pesquisa – prevista para ser encerrada em outubro de 2023, na UFG – João Marcos diz que espera o fortalecimento da parceria estabelecida, pois, segundo ele, é muito difícil chegar a um ponto final absoluto em uma pesquisa desse nível, afinal “ciência é busca. A ciência não para”.
Agrotóxico no Brasil
A permissividade da legislação brasileira sobre o uso de agrotóxicos no país é destaque nas reclamações e protestos de defensores da terra. Em análise feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e divulgada pela CPT (Comissão Pastoral da Terra), em territórios de comunidades tradicionais de sete estados brasileiros, das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, encontram-se cerca de 9 agrotóxicos em uma mesma amostra de água. O mais comum deles é o glifosato. Sua presença resulta, aos moradores que se abastecem dos rios contaminados, em dores de cabeça, coceiras e manchas na pele, além de consequências mais graves como más formações, câncer e distúrbios neurológicos.