
Foto: Rafael Gofer
Fila Indiana
Rafael Gofer
Grades para recepcionar o público-alvo que não cessa nesta crescente fila indiana e que, em cada piscar de olhos, multiplica as pernas em passos curtos no caminhar. A composição de cena do hall de entrada inclui também - independente do horário da visita - cartazes coloridos enfeitando o chão com resquícios adesivos de cola que não cola mais.
As paredes de tijolos cor de terra com rabiscos criativos de disparidade política, que num balançar de negação da cabeça revela outras preciosidades criativas. Como a impaciência provável de alguns da fila em encontro com canetas ou objetos com tinta. Papel A4 em preto e branco e sinais singelos de uso xerocado, datam de tempos perdidos no evento marcado, relatando a história em rabiscos e escárnios.
Um guichê com identificações pessoais em documentos plastificados, é arte contemporânea e representam o mosaico crítico por meio quadrado, com toque burocrático. Representado pela pessoa do capital, que movimenta o financeiro e a entrada dos interessados no momento final da fila, não fichados. Dois banheiros que não resistem ao fluxo de pessoas contínuo foram projetados para nunca estarem alinhados com seu provável projeto inicial: funcional e na medida do possível bem limpo.
Catracas - não livres - no final da fila de passos de tartaruga em caminho de labirinto (após o corredor polonês que instiga a reflexão do tempo vivido), possibilita o acesso ao salão principal. Identificações pessoais e fichas de acesso digitais permitem ou não, adentrar o lugar por tanto (tempo) esperado. Mas no caso do guarda tecnológico não reconhecer o passe como válido, entre olhares não afáveis dos companheiros de fila - e em movimento de cobra perdida - retornará em passado reverso após licenças individuais e cabisbaixo suplicar.
No salão principal, os passos curtos se tornaram um movimento natural, e ainda que o caminho até então percorrido tenha se ramificado em outros três, olhares confusos e perdidos encontram abrigo nos rostos impacientes e cansados seguindo um fluxo natural (e nem sempre cortês). O banquete é servido na sala principal para consumo posterior na sala de jantar. A fila (monumental) reflete em cada um ali, após um bom tempo de expectativas, a meta alcançada e ainda vivida - nesta vida.

Foto: Restaurante Universitário da UFG. Foto: Rafael Gofer
O destino reservou energia e comida para os longos períodos do dia que tornará a encontrar a fila. E a comida – balanceada - supre o necessário. Para que as engrenagens do intelecto de milhares de jovens promessas tenham a força suficiente, para não balançar e cair.
Restaurante Universitário da Universidade Federal de Goiás: a fórmula é a mesma independente do tempo, e do nome da empresa.
Entre os pares, é igual também no objetivo principal e diferente na categoria regional. Do querer do alimento ao sentar na sala de jantar o modelo se repete por funcionar? Ou caberiam mudanças no caminhar?