
Colóquio BraBo
Quem assiste o documentário Cowboy - oficial do Meio Ambiente - sabe que nele há o tino de um cineasta. Não só pelos enquadramentos originais, mas por encontrar e saber contar a história de um bom personagem, um brasileiro autêntico que vale a escuta: o Cowboy Aneílto Alves, catador de materiais recicláveis, protagonista e orgulhoso barretense. Contemporâneo e social, esse curta representa toda essência do curso Sem Fronteiras.
Com direção de Bruno Fiorese Fernandes e fotografia de Samuel Ibarra, o documentário foi premiado no Festival Internacional de Cinema Ambiental (FICA) em 2010. “Eu me aproximei do coletivo Magnífica, que foi onde o audiovisual entrou na minha vida de fato, foi nesse ponto da minha trajetória dentro da faculdade que eu me encontrei com uma especificidade do trabalho da comunicação e me afeiçoei. É o que eu faço hoje, né”, explica Bruno, atualmente técnico em audiovisual do Instituto Federal de Goiás. “Hoje trabalho com o audiovisual na área de educação e também na área cultural”, e sobre o documentário, ele comenta: “escolhemos fazer o Cowboy pois ele era uma personagem muito falante, gostava de contar histórias e tem uma noção muito consciente do trabalho dele. A experiência do documentário foi muito boa nesse ponto, até no sentido também desseguir e contribuir pras escolas de documentário”, aponta.
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“Eu não tenho nenhum problema em dizer que eu me formei como jornalista muito mais na extensão do que na sala de aula”, comenta Ana Lúcia Nunes de Sousa, mestra em Comunicação e Cultura pela Universidade de Buenos Aires e participante do curso Sin Frontera e do BraBo em 2008; a experiência da extensão é algo que ela diz ser de suma importância: “Acredito muito na extensão como formadora de uma prática profissional e também de cidadãos. Eu acho que tem uma forma menos engessada de trabalhar com o ensino-aprendizagem, menos hierarquizada, tanto que o que eu aprendi na extensão na Magnífica Mundi, eu tento replicar hoje no meu trabalho”. Ana ainda ressalta que as universidades deveriam dar mais foco para os projetos desse cunho, muito eficientes em ensinar pela prática e pela criatividade características, “não vou dizer que é mais importante, mas na minha trajetória acadêmica foi onde eu realmente aprendi. A UFRJ você tem hoje uma obrigatoriedade de 10% da carga horária como extensão, o que eu acho que é muito pouco, poderia ser mais”, conclui.
Cronograma de atividades
Circuito BraBo
2007
Pamela de la Cruz, boliviana residente em La Paz e ex-estudante da ECA participou do evento por dois anos consecutivos. “Em 2008 aprendemos sobre respeitar a concepção de mundo de povos tradicionais. Então visitamos Charazani, onde vivia o povo Kallawaya. No ano seguinte, em 2009, decidimos repetir o encontro sem fronteiras na cidade de Goiás”, conta. “No Brasil ninguém se encontra duas vezes, é muito grande”, Pamela aponta, “além do território, me impressionei ao conhecer a ideologia que as pessoas tinham. Quando fui para para Goiás, as pessoas não sabiam onde estava a Bolívia. O povo de Goiás me disse, ’é outro território do Brasil?’. É que o Brasil é tão grande - tão grande - como se eles também vivessem em uma bolha por causa da mesma língua que têm”, explica.
Maria Cláudia Reis decidiu aprofundar o próprio conhecimento em fotografia depois de participar do BraBo. Na época, aprendeu uma lição valiosa sobre criatividade. “Você tem que fazer com o que você tem, cinema é uma coisa cara, então se você for esperar ter verba para ter a melhor câmera, a melhor lente, nada vai ser feito; e na Bolívia eu me identifiquei mais com a parte de fotografia, foi quando eu comecei a estudar e voltando de lá, eu até fiz um curso no SENAC”, relembra. Agora jornalista, mestre em arte e cultura visual pela FAV/UFG e residente na Alemanha, Maria trabalha numa instituição de ensino superior privada e reflete sobre a diferença de acesso à bons equipamentos. “Eu vejo as câmeras disponíveis na universidade em que trabalho e penso ‘a gente não vê isso na UFG’, mas aqui os estudantes não tem criatividade, vontade de superar desafios, não tem paixão", conclui.
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No interior da Bolívia, Maria conheceu uma criança que precisava caminhar sozinha até a escola. O garoto enfrentava um trajeto de duas horas e virou tema de documentário. “Ele tinha somente uma refeição por dia, só tinha uma roupa e o contato com a família foi muito difícil, porque eles mal falavam espanhol”, ela conta que o grupo teve que improvisar. “No dia da filmagem ele ficou com medo da câmera e saiu correndo. Nós perdemos nosso personagem e aí tivemos que conversar com outro menino, só que dessa vez, explicamos como uma câmera funciona. Isso foi interessante, porque partimos do princípio de que nem todas as pessoas reconhecem uma câmera”, conclui. Cinco pessoas estavam no mesmo grupo da Maria Cláudia, entre eles, a jornalista Tatiane de Assis. “Eram nós cinco com o garoto Roger. Nosso objetivo era acompanhar o caminho dele até a escola e mostrar dados sobre a situação educacional boliviana de forma escrita na tela”, recorda.